terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Dor e a Doença

Há doenças que são do corpo mas que também doem na alma, do mesmo modo há doenças que são da alma, mas que também parecem ter o poder de se alojarem no corpo. É como se houvesse uma integração entre estes dois aspectos do nosso ser, pois somos corpo e somos alma ou qualquer outra denominação que se dê à esta manifestação não material de nós mesmos.
O corpo é visto como instrumento através do qual nos expressamos, porém ele jamais poderá ser visto como mais uma coisa entre as coisas, visto que a relação por nós estabelecida com ele é repleta de valores. Apesar dos significados eróticos e estéticos virem através dele, ele não é mera anatomia.
A dor e a doença são manifestações da nossa corporeidade, elas podem ser vistas como metáforas de nós mesmos. Dizem que o peso da tuberculose no século XIX, é proporcional ao peso de outras doenças no século XX e XXI, com o câncer e a AIDS. Espera-se que o preconceito em torno destes males desapareça na mesma proporção que o medo e a angústia sejam suplantados pela esperança de cura, como já aconteceu com a tuberculose a hanseníase.
Precisamos afugentar as metáforas e substituí-las pela desdramatização, se somos seres conscientes de nós mesmos e do mundo, é preciso saber que sentido damos às doenças e o uso que fazemos das mesmas. Não podemos esquecer que não há como gerar significado para quem se encontra dentro do turbilhão do medo, da angústia e da dor. Então, o que resta é buscar o abrandamento do inevitável, e isto, cada homem encontra do seu modo, considerando suas convicções e crenças ou até a ausência das mesmas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Que é que eu penso do amor?

Em suma não penso nada, diria R. Barthes,... estando do lado de dentro, eu o vejo em existência, não em essência. Dentro do discurso amoroso, embora haja permissão para a reflexão, esta foge do pensamento lógico, deixando assim de ser reflexividade, pois é impossivel falar em linguagem amorosa e ao mesmo tempo pretender pensá-la racionalmente.
As lendas gregas, já traziam na figura de Eros, filho de Afrodite e Ares, o deus do Amor como força de natureza espiritual que preside a partir de seu nascimento, a coesão e a ordem do universo. Curiosamente, este mesmo Eros encarregado de flechar os corações para torná-los apaixonados, se apaixona por Psique (Alma). Afrodite, a sogra invejosa da beleza de Psique, afasta-a do filho e a submete às mais difíceis provas e sofrimentos, dando-lhe como companheiras a Inquietude e a Tristeza, até que Zeus, atendendo aos apelos de Eros, liberta-a para que o casal possa enfim se unir novamente.
O que os mitos gregos podem nos revelar sobre o amor é que ele permite ao homem sair de si para assim tornar possível o encontro com o outro, somente através desta intersubjetividade se realiza o encontro. É isso que caracteriza fundamentalmente o homem, pois como força desejante, encontra a energia que o impulsiona a agir e procurar o prazer e a alegria, alcançando deste modo o objeto de seus desejos.
O amor também tem seus paradoxos, pois a meta alcançada não significa algo estático, ao contrário, é o começo do caminho de construção e reconstrução. Mesmo sendo vínculo, há um alto risco das pessoas serem aprisionadas em seu envolvimento, podendo deste modo chegar à dissolução do tão sonhado encontro. Citando um provérbio chinês:" O lugar mais sombrio, é sempre debaixo da lâmpada."

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sensibilidade e Entendimento

Ao afirmar na Crítica da Razão Pura que: " Há dois troncos do conhecimento humano que partem talvez de uma raiz comum mas desconhecida de nós, que são a sensibilidade e o entendimento; pela primeira, os objetos nos são dados, pela segunda, são pensados ", Kant quer dizer que a sensibilidade, mesmo capaz de receber impressões, não basta para que haja conhecimento pois é preciso que o espírito pense o que é dado, e isso, é feito através dos conceitos.
É importante também entendermos a impossibilidade de captarmos os corpos a não ser inseridos em relação de distância, proximidade, grandeza, em suma, numa rede de relações espaciais. Para uma melhor compreensão devemos pensar a respeito da relação espaço e tempo. O espaço nós dá a possibilidade de abstrairmos todas as coisas que ele contem, porém, não o próprio espaço. O tempo também não é uma realidade em si, independente de nós. Nele estão enquadradas todas as coisas e estas, podem desaparecer, menos o próprio tempo.
Aplicando estes conceitos na experiência de viver, é preciso entendermos a dinâmica que há por trás de cada juízo elaborado sobre o mesmo tema e por vezes tão distintos em seu conteúdo. Não se aprende a experiência para depois submetê-la à síntese, pois o próprio ato de apreender já pressupõe que a experiência tenha ocorrido.
Sejamos pois tolerantes com os que pensam diferente de nós visto que a verdadeira experiência de cada um frente ao mundo, refletindo aqui sobre a questão do espaço, do tempo e das coisas neles inseridas, repercutem diretamente na síntese que cada indivíduo faz a respeito dos acontecimentos. Porém, ser tolerante não nos tira o direito de nos indignarmos diante dos juízos cegos e por vezes incoerentemente irracionais e com os quais nos deparamos com frequência.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Liberdade Como Futuro Aberto

A idéia de liberdade é comparada ao vôo livre de um pássaro, no entanto, esquecemos de refletir se há de fato total liberdade no ato de voar. Para Kant, a imagem de uma pomba ágil, indignada contra a resistência do ar que a impede de voar mais rápido, tem na resistência um suporte para o vôo visto que seria impossível voar no vácuo. Do mesmo modo somos nós, quando buscamos desesperadamente o direito à liberdade, nos deparamos com as resistências que o mundo real nos apresenta.
É impossível fugirmos aos determinismos naturais por exemplo. Há mecanismos que gostando ou não, estamos sujeitos, desta forma, já podemos constatar a existência de elos que nos incluem numa cadeia causal universal. O reconhecimento destes dados não deve servir de justificativa para a passividade diante do mundo e da trajetória de nossa existência. Ao buscarmos atingir as nossas metas, imprimimos autenticidade às nossas vidas. O homem que ao contrário não busca resistir às tensões mundanas, torna-se inautêntico, pois deixa de correr atrás do que acredita e deseja, passando a ser um mero seguidor de normas previamente criadas.
O homem verdadeiramente autêntico é aquele que mesmo reconhecendo os obstáculos que a vida apresenta, lança-se em direção ao futuro, projeta-se no tempo. Ou acreditamos na ilusão que somos livres para mudar a direção conforme nossos anseios ou nos resignamos e passamos a acreditar que nada podemos fazer. Nesta última opção, não há projeto de futuro, ao contrário o que prevalece é o determinismo e este não pode se sobrepor ao desejo humano de ultrapassagem, pois lá na frente há um futuro e este é um futuro aberto.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Eu Senti Antes de Pensar

A palavra se encontra no limiar do universo humano, pois caracteriza o homem e ao mesmo tempo o distingue do animal. Se a palavra se encontra enfraquecida na sua possibilidade de expressão, é o próprio homem que se desumaniza. Este homem é o ser animal que pensa, fala e age. A ação é o ato humano sobre o mundo capaz de transformar não apenas sua existência, mas também, tudo que a envolve.
O homem se autoproduz, estabelece relações mutáveis, altera sua forma de perceber, de pensar e de sentir. O mundo do animal é um mundo sem conceito; se chamado, responde ao nome que lhe foi dado e ao qual se habituou, nem por isso ele tem um "eu".
Em contrapartida, o eu humano é carregado de significados, pois permite o distanciamento do mundo e ao mesmo tempo possibilita o retorno. É dentro do universo social concreto que o homem se perde, na sua condição de ser social, mas, como pessoa, tem na individualidade a chance de encontrar-se consigo mesmo. Essa dialética do estranhamento é fundamental para desencadear novas forças criativas.
Por vezes, nosso olhar já embaçado pelo costume, necessita do distanciamento e este, possibilita no retorno, lançar um novo olhar carregado de novas perspectivas. Talvez este seja o remédio para se combater as convicções inabaláveis e portanto paralisantes, feito isto, podemos partir para mais um recomeço.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Sono da Razão Produz Monstros

Ao entrar em contato com o mundo, o homem o deseja ou o teme, só depois o interpreta. É próprio do desejo humano a busca pela dominação que serve para afugentar a insegurança e os temores diante do desconhecido e da morte. Os primeiros modelos de construção do real foram de natureza sobrenatural, ou seja, os mitos serviram não apenas de modelos de compreensão, pois trouxeram junto os deuses que tinham a função de apaziguar a afliçao humana de então.
Há no homem uma necessidade de compreensão, mesmo diante do caos, que não significa vazio, mas sim, a existência da desordem, mesmo aí, persiste a tentativa humana de por fim a este estado. Por ordem no caos significa dar a este homem a possibilidade de agir e de transformar.
Pela ciência acreditou-se na possibilidade definitiva de espantar o medo causado pela ignorância e superstição. No entanto, as sombras persistem, primeiramente observadas pelos pensadores da Escola de Frankfurt, e mais precisamente hoje, com base nas experiências concretas por nós vividas, estas sombras nos dão o temor da completa escuridão. Pedimos somente um pouco de ordem para nos proteger do caos, pois nada é mais doloroso do que constatarmos a nossa incapacidade de convivência com aquilo que não dominamos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Belo é dizer duas vezes o que é necessário

A palavra distingue os homens dos animais. Não se sabe de onde é um homem antes que ele tenha falado, já dizia Rousseau. A linguagem é algo inseparável do humano, pois está presente em todos os seus atos.
Na busca da expressão e da comunicação, utilizando-se de gestos e vozes, apareceu a linguagem. Como expressão do pensamento, ela não é um simples acompanhamento do mesmo, mas sim, um fio profundamente tecido na trama do próprio pensamento.
Platão considerava a linguagem um remédio para o conhecimento, pois nos permite descobrir nossa ignorância e a partir daí, nos leva a aprender com os outros. Porém, ela também pode ser um veneno quando, pela sedução das palavras, nos faz acreditar no fascínio que as mesmas nos provocam. Há por trás delas um poder encantatório.
Sejamos pois atentos não apenas ao que ouvimos, mas, sobretudo, ao que pronunciamos, pois é através da linguagem que estabelecemos nossas relações com os outros e com o mundo. Somos ouvintes, mas também somos criadores daquilo que os outros ouvem. Portanto, belo é dizer duas vezes o necessário, o resto devemos guardar em forma de pensamento e deixar que se disperse.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Existirmos - a que será que se destina?

Fazendo uma reflexão sobre a questão da liberdade colocada frente a outro tema que é o livre arbítrio, é possível estabelecer a diferença entre ambos, embora esta passe às vezes despercebida. A liberdade só pode ser exercida num contexto em que de antemão já exista o livre arbítrio, pois ele serve de meio para se usar a liberdade, porém, de maneira ambígua.
Quando bem utilizado, o livre arbítrio liberta; quando é mal empregado, corre o risco de escravizar. Portanto, a nossa independência tem um preço, aliás, como tudo na vida. Dentre todas as épocas, o homem contemporâneo é o que mais carrega em sua existência o peso da solidão e da responsabilidade de, por conta própria, fazer suas escolhas. Principalmente se as questões referentes ao viver forem pensadas dentro do contexto filosófico existencialista.
O homem contemporâneo é livre e por ser livre, é o responsável pelo seu destino. Talvez esteja aí a resposta para as sensações de angústia, vazio e desamparo tão presentes nas vivências atuais.
É tarefa deste homem saber o que faz da sua existência e, reconhecer aquilo que ele é, apesar de não poder dizer como o mundo deve ser. A importância de perceber a tempo, para não ser como a ave de Minerva, que só levanta vôo ao amanhecer, ou seja, dar conta de sua história depois que o curso da vida já tiver passado... .

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Filosofia: A Busca da Saída da Caverna

" Por que as Ciências, filhas da Filosofia, depois de repartirem entre si a herança filosófica, lhe voltam as costas, como as filhas do rei Lear, depois de dividido o seu reino?" ( Will Durant )
Ao contrário do que muitos letrados insistem em repetir, a Filosofia não trata apenas de abstrações ou elocubrações à cerca de tudo e de nada. Ela é sim, uma maneira de pensar o mundo e tentar compreendê-lo através da atitude racional. Para os que acreditam que nada vale fazer Filosofia, gostaria de lembrar que sem as primeiras tentativas gregas de entender o cosmo, as Ciências provavelmente não teriam garantido seu lugar no mundo como fonte de entendimento do mesmo. A crise entre o saber mítico, também denominado cosmogonia, e o saber racionalizado, que surgiu com a filosofia , chamado cosmologia, já mostra o grande passo que esta passagem significou na construção do saber ocidental.
A Alegoria da Caverna, usada por Platão, é, no meu entendimento, um modo não apenas eficaz, mas sobretudo, extremamente acessível de fazer a ponte entre os conceitos e a substituição da cosmogonia pela cosmologia. É o mundo ordenado que se opõe ao caos, no momento em que ainda não se reconhecia a real capacidade humana de usar seu potencial racional que daria origem não apenas à Filosofia, mas consequentemente, às Ciências. Pena que muitos cientistas se esquecem deste detalhe... .

sábado, 3 de outubro de 2009

A Não Indiferença

Valorar é uma experiência fundamentalmente humana que se encontra no centro de todas as escolhas. Elaborar um plano de ação já é indício de escolhas de valores, mesmo que não percebamos. Há o mundo das coisas e o mundo dos valores, ou seja, não é possível a existência humana sem que esta não busque seus significados. Deste modo, nos mostramos capazes de realizar ações transformadoras, deixamos de ser passivos para sermos atuantes.
Somos afetados pelas coisas e pelas pessoas uma vez que somos influenciados pelo que nos rodeia, mas, também não passamos incólumes pelo mundo, pois atribuir valor a algo ou a alguém é uma maneira de não passar indiferente. Não ser indiferente é a atitude que orienta a ação humana na construção da história do homem como indivíduo e como personagem de seu tempo. Daí a importância de se respeitar a pluralidade e as diferenças como garantia para que nenhum povo se deixe sucumbir à tentação de dominar o outro por considerar o diferente como sinal de inferioridade. O verdadeiro homem pauta suas escolhas no seu dia a dia na medida em que, reconhecendo os riscos do egoísmo consciente, presente tanto no indivíduo como na atmosfera coletiva, age cautelosamente como legislador de si e do mundo.

A Não Indiferença

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A Vida Como Eterno Fluxo

A observação que fazemos a respeito de nós mesmos e que nos faz acreditar naquilo pensamos ser, não significa que de fato seja verdade. Nós mesmos nada mais somos senão aquilo que acreditamos naquele momento. A antiga máxima de Heráclito:"não se entra duas vezes no mesmo rio", é um caminho para a reflexão das verdades que acreditamos consumadas como modelos representativos de nós mesmos. Do mesmo modo que precisamos conhecer a história para que dela possamos falar, é também necessário que busquemos nos vestígios de nosso passado, as correntezas que a cada instante atravessaram nosso caminho. Deste modo, nos renovamos e damos conta de que nada somos senão aquilo que sentimos e que nos renova a cada instante.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Possível Harmonia

Para os gregos Apolo era o deus da luz, do uso do raciocínio claro, da harmonia e do equilíbrio. Dionísio era seu oposto, pois enquanto Apolo era o deus da razão, Dionísio era o deus do exagero, da bebedeira, da loucura, dos vinhos e das festas.
O saber apolíneo é baseado na proporção, na calma e na serenidade. A necessidade desta ordem é contraposta pela desmesura do saber dionisíaco, já que este último busca o êxtase, e assim, no lugar do sonho, procura a embriaguez.
Não poderia haver um só homem que em sua lucidez, não experimentasse estas duas facetas tão diferentes porém tão necessárias para revelar a ilusão em que vive. Transitando entre a clareza apolínea, que tenta mascarar a dura realidade, transformando o mundo em ilusão, a ponto de encobrir a árdua tarefa do viver, a visão dionisíaca, com suas extravagâncias, vem como êxtase permitir a este homem tornar possível o desejado, mesmo que para isto, a crueldade do mundo se faça presente como necessidade.
É a contradição da perfeição e da clareza diante do ímpeto, nem sempre tão claro e nem sempre preciso. Estes somos nós, uma mistura de Apolo e de Dionísio, de equilíbrio e de loucura.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Respondendo Comentário A Voz do Silêncio

Se for quem eu estou pensando, é uma honra tê-la como leitora, minha querida mestra.
Um brinde aos seus ensinamentos.
Beijos!

A Voz do Silêncio

"Penso noventa e nove vezes e nada descubro: deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se me revela." (Einstein)
Dizem que o silêncio é algo que não pode ser comprado e que nosso espírito só se realiza quando mergulhado no silêncio natural, pois embora não pareça, ele serve de compreensão. Nossas vivências mais intimamente próprias, estas não são ditas, são na verdade vividas internamente. Para certas coisas na vida as palavras são desnecessárias.
Por vezes, quebramos o nosso momento de silenciar quando procuramos nas palavras um modo de explicar para o outro o que sentimos. Mas, é no silêncio da nossa memória que estão depositadas todas as nossas experiências e vivências. É lá que estão presentes as imagens do sol, da terra e do mar, pois é lá que me encontro a mim mesmo.

sábado, 12 de setembro de 2009

Invisível Presença

"Quem sou eu? Uma substância que pensa. O que é uma substância que pensa? É uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina e que sente."(Descartes)
Racionalizamos o mundo e através deste processo tentamos dar um sentido para a vida, nos tornamos coisa pensante. Nossas ações deveriam pretender gerar significados para as coisas que vivenciamos. No entanto, o que resulta é o triunfo dos nossos objetivos na medida em que, sendo prioridades, são a todo instante perseguidos.
Somos seres pensantes, mas também somos seres sonhadores, realizamos cada vez mais e , paradoxalmente, nos tornamos cada vez menos. Sendo capazes de perceber, somos também capazes de imaginar. Pela imaginação nos relacionamos com o ausente e até com o inexistente. Não podemos sucumbir à razão pois o possível não é apenas o previsível, o possível é aquilo que é criado, e este, pode ser fruto do acaso. Portanto, "substância pensante", fecha os olhos e esquece, deixa o tempo escorrer e correr... .

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Odeio os Indiferentes

"Viver é tomar partido. Não podem existir os apenas homens, os estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, é parasitismo, é covardia, não é vida. Por isso, odeio os indiferentes". (Gramsci)
É importante falar de indiferença num momento em que as pessoas, influenciadas por opiniões de terceiros, vem a público, numa sequência de repetição, mostrar-se indignadas, quando de fato, não foram ou não quiseram ter a capacidade de olhar o mundo e fazer sua própria leitura. Pessoalmente não aguento as mensagens prontas e repassadas, com clara leitura interpretativa de segmentos políticos e não da opinião de quem as repassa.
Tal atitude não implica participação, pois na verdade estas pessoas são usadas e demonstram sua passividade diante dos acontecimentos, e são manipuladas por quem escreve tais artigos.
Pessoalmente, acredito naqueles quem são capazes de sustentar sua opinião, claro que aliada ao bom senso.
"Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões restritas e ambições pessoais". Portanto, não podemos esquecer que vivemos entre homens e não entre anjos.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Paradigmas da Modernidade

Mesmo em tempo de globalização é importante lembrar-mos que não existe um modelo de humanização válido para todo tempo e lugar, uma vez que os projetos variam de acordo com o contexto historico-social. As mudanças estão presentes em todos os lugares, o que varia é a intensidade com que acontecem. As mudanças consideradas significativas provocam o que chamamos de ruptura de paradigmas.
Foram vários os momentos históricos onde essas rupturas aconteceram e onde também novos paradigmas surgiram. A velocidade que a nossa época vive é a responsável pelas constantes quebras e consequetemnente, construções de novos paradigmas. Tais fatos porém não acontecem sem deixar rastro, pois cada gestação de um período, gera ônus, não só por conta do novo que surge, mas também pela constatação das perdas sofridas.
Quando a cultura sofre crises, ao romper com antigas certezas, o questionamento obriga as pessoas a buscarem novas representações de si mesmas. Conciliar as ambiguidades, é o constante desafio do homem, principalmente nos dias de hoje.

sábado, 5 de setembro de 2009

O Além-do Homem

"O homem é uma corda, atada entre o animal e o além do homem - uma corda sobre um abismo". Nesta fala, Nietzsche coloca a aventura de nascer humano, pois este tem pela frente o perigo das travessias e o temor de enfrentar os riscos que a mesma lhe impõe. Sendo uma ponte e não um fim, cabe a este homem correr todos os riscos na tentativa de passar, pois só sabe viver aquele que se permite sucumbir, para aí sim, conseguir passar. Somente os que se jogam por inteiro na árdua experiência do viver, padecendo dos sacrifícios da travessia, vivem intensamente. Fazer-se por inteiro é ir até o fundo, mesmo que para tanto seja necessário sucumbir.
Só passa sobre a ponte quem procura ao seu redor e não nas estrelas, uma razão para ir além. É preciso ousar a ponto de não se poupar às fatalidades da travessia, os que assim agirem, certamente passarão com espírito sobre a ponte, ou seja, viverão intensamente a vida e não serão meros espectadores da sua história.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O Sopro do Pensamento Versus Razão Instrumental

A imagem da razão como destino histórico da humanidade, foi sacramentada pelo pensamento iluminista como um resgate da tradição grega, que já focava a sabedoria como fruto do pensamento racionalizado. O questionamento feito ao pensamento iluminista e a todos que vieram depois, é a respeito da preocupação com a construção de uma sociedade pautada na ética da racionalidade que vigorou a partir daquele momento. É pertinente o questionamento a respeito do lugar, do sentido e consequentemente da felicidade do homem de então.
Por vezes temos a sensação que o desenvolvimento científico gerou a atrofia do pensamento, é como se este tivesse sido reduzido a um cálculo cerebral. Diante de um mundo dominado pelas práticas advindas da tecnologia, pela transformação da razão em algo meramente instrumental, parece que o pensamento, característica fundamental do homem, foi subjugado por esta nova mentalidade.
Portanto, é urgente reconsiderar a utilização da razão e a busca do conhecimento, aliados ao uso da sabedoria, a um agir que não descarte o contemplar, pois não basta fazer, mas saber para que fazer.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Desencantamento do Mundo

A ciência que é conhecida como a mais soberana e precisa maneira de conhecer o mundo, pode ser entendida como aniquilamento de sentido, vertigem, e, ao mesmo tempo ser sinal de progresso. Progride sem confiar em qualquer fim transcendental. Não tem paradeiro nem parada. Sua lógica interna é a de acumular um estoque sempre maior e mais atualizado de conhecimento sobre o mundo. Cada nova descoberta traz a promessa de outras novas descobertas. Assim sendo, ela, a ciência, é a arte da eterna descoberta, daí seu caráter provisório, parcial, nunca totalizante, muito menos definitivo. Ironicamente, é neste aspecto que se situa a falta de sentido da ciência.
Todas as visões de mundo criadas pelo homem, sejam as religiosas ou quaisquer outras, são o que são, precisamente porque não são científicas. Elas dão sentido ao mundo, coisa que a ciência empírica moderna não faz e nem se preocupa em fazer. Portanto, o "desencantamento do mundo"pode ser encontrado tanto na religião, como busca de sentido, como na ciência, e esta ao contrário, pode ser assim considerada, exatamente pelo fato de retirar os sentidos já que seu papel é o explicar e não o de atribuir sentidos.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Visionário Zaratustra de Nietzsche

Ao indagar-se sobre a origem do clamor da necessidade do "super-homem" e da provável falta de suficiência do homem, Heidegger afirma que através das questões levantadas por Nietzsche na figura de Zaratustra, temos alí o momento histórico onde o homem já se preparava para entrar na total dominação da terra. No entanto, resta saber se a humanidade está preparada para assumí-la. Esbarramos aí numa questão paradoxal: como pode haver dominação se também há submissão? E esta última já estaria sendo cumprida segundo as previsões do velho testamento. Para tanto, o homem precisa ser conduzido para além de si mesmo, caso contrário, não será capaz de dar conta desta missão.
Zaratustra já ensina e aponta a um só tempo, na medida em que pode ser compreendido como uma "ponte no processo de ultrapassagem", e, esta é composta de três momentos: "de onde", "a própria ultrapassagem" e o "para onde".
Fica aqui uma indagação para a constante necessidade humana de ir além, de querer ir mais longe, pois, o "para onde" permanece longe, pois o "distante insiste".

domingo, 30 de agosto de 2009

A Condição Humana

A filósofa Hannah Arendt, em seu livro "A Condição Humana", propõe várias reconsiderações sobre a atual existência humana, tendo em vista as novas experiências e os recentes temores. Tendo sido aluna de Heidegger, Arendt aprendeu que"pensar não é pensar sobre alguma coisa, mas pensar alguma coisa". Neste sentido, pensar e estar constituem uma só unidade.
O seu pensamento foi voltado para o fenômeno da ruptura, para a lacuna entre o passado e o futuro, levando-a a fazer um exame do presente. Foi com extrema lucidez, que Arendt reforçou idéias de Nietzsche e Heidegger a respeito da desconstrução da metafísica tradicional.
A concepção de uma sociedade de massas, dominada por uma visão tecnicista, já é sinal de esfacelamento da tradição. Na medida em que tal mentalidade converteu-se em instrumento de opressão, houve um distanciamento do sentido humano, representando assim sinais de crise na interpretação do homem contemporâneo a respeito de si mesmo.

PERDER-SE A SI MESMO

Uma vez que se tenha encontrado a si mesmo, é preciso saber, de tempo em tempo perder-se - e depois reencontrar-se: pressuposto que se seja um pensador. A este, com efeito, é prejudicial estar sempre ligado a uma pessoa." Nietzsche.A partir desta reflexão de Nietzsche, é possível pensar nas várias maneiras de exercermos a nossa liberdade, mesmo que para isso seja necessário nos perdermos.A grande sabedoria está no saber perder-se a si mesmo e em seguida buscar o caminho do reencontro consigo.

O impetuoso caminhar

Caminhar é estar a caminho do perder-se e conseqüentemente da busca do reencontro, embora este não implique a existência de um plano de chegada. O percurso é íngreme e longo, porém é nele que se encontra a possibilidade da busca. Os que se perdem são os que não acreditam na previsibilidade das coisas, mesmo porque os significados não são prontamente, nem tampouco gratuitamente dados, são na verdade atribuídos. O perigo daqueles que não se permitem o desvio do caminho está no fato de já se sentirem portadores do entendimento do percurso e ali permanecerem.A imprevisibilidade do mundo pertence aos “pensadores”, na medida em que reconhecendo o risco da imobilidade, deixam-se levar pela busca de novos rumos. O destinar do ser repousa na desapropriação de si mesmo, de onde se dá a retomada. Só há retomada se antes houver uma retração, entendida aqui como desvio do previsível. Transpor abismos, atravessar pontes, aceitar que a “ruptura da tradição libera o olhar”, é assim que nos permitimos enxergar os acontecimentos do caminho e reconhecer a real possibilidade de outras perspectivas.