segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A Vida Como Eterno Fluxo

A observação que fazemos a respeito de nós mesmos e que nos faz acreditar naquilo pensamos ser, não significa que de fato seja verdade. Nós mesmos nada mais somos senão aquilo que acreditamos naquele momento. A antiga máxima de Heráclito:"não se entra duas vezes no mesmo rio", é um caminho para a reflexão das verdades que acreditamos consumadas como modelos representativos de nós mesmos. Do mesmo modo que precisamos conhecer a história para que dela possamos falar, é também necessário que busquemos nos vestígios de nosso passado, as correntezas que a cada instante atravessaram nosso caminho. Deste modo, nos renovamos e damos conta de que nada somos senão aquilo que sentimos e que nos renova a cada instante.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Possível Harmonia

Para os gregos Apolo era o deus da luz, do uso do raciocínio claro, da harmonia e do equilíbrio. Dionísio era seu oposto, pois enquanto Apolo era o deus da razão, Dionísio era o deus do exagero, da bebedeira, da loucura, dos vinhos e das festas.
O saber apolíneo é baseado na proporção, na calma e na serenidade. A necessidade desta ordem é contraposta pela desmesura do saber dionisíaco, já que este último busca o êxtase, e assim, no lugar do sonho, procura a embriaguez.
Não poderia haver um só homem que em sua lucidez, não experimentasse estas duas facetas tão diferentes porém tão necessárias para revelar a ilusão em que vive. Transitando entre a clareza apolínea, que tenta mascarar a dura realidade, transformando o mundo em ilusão, a ponto de encobrir a árdua tarefa do viver, a visão dionisíaca, com suas extravagâncias, vem como êxtase permitir a este homem tornar possível o desejado, mesmo que para isto, a crueldade do mundo se faça presente como necessidade.
É a contradição da perfeição e da clareza diante do ímpeto, nem sempre tão claro e nem sempre preciso. Estes somos nós, uma mistura de Apolo e de Dionísio, de equilíbrio e de loucura.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Respondendo Comentário A Voz do Silêncio

Se for quem eu estou pensando, é uma honra tê-la como leitora, minha querida mestra.
Um brinde aos seus ensinamentos.
Beijos!

A Voz do Silêncio

"Penso noventa e nove vezes e nada descubro: deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se me revela." (Einstein)
Dizem que o silêncio é algo que não pode ser comprado e que nosso espírito só se realiza quando mergulhado no silêncio natural, pois embora não pareça, ele serve de compreensão. Nossas vivências mais intimamente próprias, estas não são ditas, são na verdade vividas internamente. Para certas coisas na vida as palavras são desnecessárias.
Por vezes, quebramos o nosso momento de silenciar quando procuramos nas palavras um modo de explicar para o outro o que sentimos. Mas, é no silêncio da nossa memória que estão depositadas todas as nossas experiências e vivências. É lá que estão presentes as imagens do sol, da terra e do mar, pois é lá que me encontro a mim mesmo.

sábado, 12 de setembro de 2009

Invisível Presença

"Quem sou eu? Uma substância que pensa. O que é uma substância que pensa? É uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina e que sente."(Descartes)
Racionalizamos o mundo e através deste processo tentamos dar um sentido para a vida, nos tornamos coisa pensante. Nossas ações deveriam pretender gerar significados para as coisas que vivenciamos. No entanto, o que resulta é o triunfo dos nossos objetivos na medida em que, sendo prioridades, são a todo instante perseguidos.
Somos seres pensantes, mas também somos seres sonhadores, realizamos cada vez mais e , paradoxalmente, nos tornamos cada vez menos. Sendo capazes de perceber, somos também capazes de imaginar. Pela imaginação nos relacionamos com o ausente e até com o inexistente. Não podemos sucumbir à razão pois o possível não é apenas o previsível, o possível é aquilo que é criado, e este, pode ser fruto do acaso. Portanto, "substância pensante", fecha os olhos e esquece, deixa o tempo escorrer e correr... .

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Odeio os Indiferentes

"Viver é tomar partido. Não podem existir os apenas homens, os estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, é parasitismo, é covardia, não é vida. Por isso, odeio os indiferentes". (Gramsci)
É importante falar de indiferença num momento em que as pessoas, influenciadas por opiniões de terceiros, vem a público, numa sequência de repetição, mostrar-se indignadas, quando de fato, não foram ou não quiseram ter a capacidade de olhar o mundo e fazer sua própria leitura. Pessoalmente não aguento as mensagens prontas e repassadas, com clara leitura interpretativa de segmentos políticos e não da opinião de quem as repassa.
Tal atitude não implica participação, pois na verdade estas pessoas são usadas e demonstram sua passividade diante dos acontecimentos, e são manipuladas por quem escreve tais artigos.
Pessoalmente, acredito naqueles quem são capazes de sustentar sua opinião, claro que aliada ao bom senso.
"Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões restritas e ambições pessoais". Portanto, não podemos esquecer que vivemos entre homens e não entre anjos.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Paradigmas da Modernidade

Mesmo em tempo de globalização é importante lembrar-mos que não existe um modelo de humanização válido para todo tempo e lugar, uma vez que os projetos variam de acordo com o contexto historico-social. As mudanças estão presentes em todos os lugares, o que varia é a intensidade com que acontecem. As mudanças consideradas significativas provocam o que chamamos de ruptura de paradigmas.
Foram vários os momentos históricos onde essas rupturas aconteceram e onde também novos paradigmas surgiram. A velocidade que a nossa época vive é a responsável pelas constantes quebras e consequetemnente, construções de novos paradigmas. Tais fatos porém não acontecem sem deixar rastro, pois cada gestação de um período, gera ônus, não só por conta do novo que surge, mas também pela constatação das perdas sofridas.
Quando a cultura sofre crises, ao romper com antigas certezas, o questionamento obriga as pessoas a buscarem novas representações de si mesmas. Conciliar as ambiguidades, é o constante desafio do homem, principalmente nos dias de hoje.

sábado, 5 de setembro de 2009

O Além-do Homem

"O homem é uma corda, atada entre o animal e o além do homem - uma corda sobre um abismo". Nesta fala, Nietzsche coloca a aventura de nascer humano, pois este tem pela frente o perigo das travessias e o temor de enfrentar os riscos que a mesma lhe impõe. Sendo uma ponte e não um fim, cabe a este homem correr todos os riscos na tentativa de passar, pois só sabe viver aquele que se permite sucumbir, para aí sim, conseguir passar. Somente os que se jogam por inteiro na árdua experiência do viver, padecendo dos sacrifícios da travessia, vivem intensamente. Fazer-se por inteiro é ir até o fundo, mesmo que para tanto seja necessário sucumbir.
Só passa sobre a ponte quem procura ao seu redor e não nas estrelas, uma razão para ir além. É preciso ousar a ponto de não se poupar às fatalidades da travessia, os que assim agirem, certamente passarão com espírito sobre a ponte, ou seja, viverão intensamente a vida e não serão meros espectadores da sua história.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O Sopro do Pensamento Versus Razão Instrumental

A imagem da razão como destino histórico da humanidade, foi sacramentada pelo pensamento iluminista como um resgate da tradição grega, que já focava a sabedoria como fruto do pensamento racionalizado. O questionamento feito ao pensamento iluminista e a todos que vieram depois, é a respeito da preocupação com a construção de uma sociedade pautada na ética da racionalidade que vigorou a partir daquele momento. É pertinente o questionamento a respeito do lugar, do sentido e consequentemente da felicidade do homem de então.
Por vezes temos a sensação que o desenvolvimento científico gerou a atrofia do pensamento, é como se este tivesse sido reduzido a um cálculo cerebral. Diante de um mundo dominado pelas práticas advindas da tecnologia, pela transformação da razão em algo meramente instrumental, parece que o pensamento, característica fundamental do homem, foi subjugado por esta nova mentalidade.
Portanto, é urgente reconsiderar a utilização da razão e a busca do conhecimento, aliados ao uso da sabedoria, a um agir que não descarte o contemplar, pois não basta fazer, mas saber para que fazer.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Desencantamento do Mundo

A ciência que é conhecida como a mais soberana e precisa maneira de conhecer o mundo, pode ser entendida como aniquilamento de sentido, vertigem, e, ao mesmo tempo ser sinal de progresso. Progride sem confiar em qualquer fim transcendental. Não tem paradeiro nem parada. Sua lógica interna é a de acumular um estoque sempre maior e mais atualizado de conhecimento sobre o mundo. Cada nova descoberta traz a promessa de outras novas descobertas. Assim sendo, ela, a ciência, é a arte da eterna descoberta, daí seu caráter provisório, parcial, nunca totalizante, muito menos definitivo. Ironicamente, é neste aspecto que se situa a falta de sentido da ciência.
Todas as visões de mundo criadas pelo homem, sejam as religiosas ou quaisquer outras, são o que são, precisamente porque não são científicas. Elas dão sentido ao mundo, coisa que a ciência empírica moderna não faz e nem se preocupa em fazer. Portanto, o "desencantamento do mundo"pode ser encontrado tanto na religião, como busca de sentido, como na ciência, e esta ao contrário, pode ser assim considerada, exatamente pelo fato de retirar os sentidos já que seu papel é o explicar e não o de atribuir sentidos.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Visionário Zaratustra de Nietzsche

Ao indagar-se sobre a origem do clamor da necessidade do "super-homem" e da provável falta de suficiência do homem, Heidegger afirma que através das questões levantadas por Nietzsche na figura de Zaratustra, temos alí o momento histórico onde o homem já se preparava para entrar na total dominação da terra. No entanto, resta saber se a humanidade está preparada para assumí-la. Esbarramos aí numa questão paradoxal: como pode haver dominação se também há submissão? E esta última já estaria sendo cumprida segundo as previsões do velho testamento. Para tanto, o homem precisa ser conduzido para além de si mesmo, caso contrário, não será capaz de dar conta desta missão.
Zaratustra já ensina e aponta a um só tempo, na medida em que pode ser compreendido como uma "ponte no processo de ultrapassagem", e, esta é composta de três momentos: "de onde", "a própria ultrapassagem" e o "para onde".
Fica aqui uma indagação para a constante necessidade humana de ir além, de querer ir mais longe, pois, o "para onde" permanece longe, pois o "distante insiste".