sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Sono da Razão Produz Monstros

Ao entrar em contato com o mundo, o homem o deseja ou o teme, só depois o interpreta. É próprio do desejo humano a busca pela dominação que serve para afugentar a insegurança e os temores diante do desconhecido e da morte. Os primeiros modelos de construção do real foram de natureza sobrenatural, ou seja, os mitos serviram não apenas de modelos de compreensão, pois trouxeram junto os deuses que tinham a função de apaziguar a afliçao humana de então.
Há no homem uma necessidade de compreensão, mesmo diante do caos, que não significa vazio, mas sim, a existência da desordem, mesmo aí, persiste a tentativa humana de por fim a este estado. Por ordem no caos significa dar a este homem a possibilidade de agir e de transformar.
Pela ciência acreditou-se na possibilidade definitiva de espantar o medo causado pela ignorância e superstição. No entanto, as sombras persistem, primeiramente observadas pelos pensadores da Escola de Frankfurt, e mais precisamente hoje, com base nas experiências concretas por nós vividas, estas sombras nos dão o temor da completa escuridão. Pedimos somente um pouco de ordem para nos proteger do caos, pois nada é mais doloroso do que constatarmos a nossa incapacidade de convivência com aquilo que não dominamos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Belo é dizer duas vezes o que é necessário

A palavra distingue os homens dos animais. Não se sabe de onde é um homem antes que ele tenha falado, já dizia Rousseau. A linguagem é algo inseparável do humano, pois está presente em todos os seus atos.
Na busca da expressão e da comunicação, utilizando-se de gestos e vozes, apareceu a linguagem. Como expressão do pensamento, ela não é um simples acompanhamento do mesmo, mas sim, um fio profundamente tecido na trama do próprio pensamento.
Platão considerava a linguagem um remédio para o conhecimento, pois nos permite descobrir nossa ignorância e a partir daí, nos leva a aprender com os outros. Porém, ela também pode ser um veneno quando, pela sedução das palavras, nos faz acreditar no fascínio que as mesmas nos provocam. Há por trás delas um poder encantatório.
Sejamos pois atentos não apenas ao que ouvimos, mas, sobretudo, ao que pronunciamos, pois é através da linguagem que estabelecemos nossas relações com os outros e com o mundo. Somos ouvintes, mas também somos criadores daquilo que os outros ouvem. Portanto, belo é dizer duas vezes o necessário, o resto devemos guardar em forma de pensamento e deixar que se disperse.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Existirmos - a que será que se destina?

Fazendo uma reflexão sobre a questão da liberdade colocada frente a outro tema que é o livre arbítrio, é possível estabelecer a diferença entre ambos, embora esta passe às vezes despercebida. A liberdade só pode ser exercida num contexto em que de antemão já exista o livre arbítrio, pois ele serve de meio para se usar a liberdade, porém, de maneira ambígua.
Quando bem utilizado, o livre arbítrio liberta; quando é mal empregado, corre o risco de escravizar. Portanto, a nossa independência tem um preço, aliás, como tudo na vida. Dentre todas as épocas, o homem contemporâneo é o que mais carrega em sua existência o peso da solidão e da responsabilidade de, por conta própria, fazer suas escolhas. Principalmente se as questões referentes ao viver forem pensadas dentro do contexto filosófico existencialista.
O homem contemporâneo é livre e por ser livre, é o responsável pelo seu destino. Talvez esteja aí a resposta para as sensações de angústia, vazio e desamparo tão presentes nas vivências atuais.
É tarefa deste homem saber o que faz da sua existência e, reconhecer aquilo que ele é, apesar de não poder dizer como o mundo deve ser. A importância de perceber a tempo, para não ser como a ave de Minerva, que só levanta vôo ao amanhecer, ou seja, dar conta de sua história depois que o curso da vida já tiver passado... .

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Filosofia: A Busca da Saída da Caverna

" Por que as Ciências, filhas da Filosofia, depois de repartirem entre si a herança filosófica, lhe voltam as costas, como as filhas do rei Lear, depois de dividido o seu reino?" ( Will Durant )
Ao contrário do que muitos letrados insistem em repetir, a Filosofia não trata apenas de abstrações ou elocubrações à cerca de tudo e de nada. Ela é sim, uma maneira de pensar o mundo e tentar compreendê-lo através da atitude racional. Para os que acreditam que nada vale fazer Filosofia, gostaria de lembrar que sem as primeiras tentativas gregas de entender o cosmo, as Ciências provavelmente não teriam garantido seu lugar no mundo como fonte de entendimento do mesmo. A crise entre o saber mítico, também denominado cosmogonia, e o saber racionalizado, que surgiu com a filosofia , chamado cosmologia, já mostra o grande passo que esta passagem significou na construção do saber ocidental.
A Alegoria da Caverna, usada por Platão, é, no meu entendimento, um modo não apenas eficaz, mas sobretudo, extremamente acessível de fazer a ponte entre os conceitos e a substituição da cosmogonia pela cosmologia. É o mundo ordenado que se opõe ao caos, no momento em que ainda não se reconhecia a real capacidade humana de usar seu potencial racional que daria origem não apenas à Filosofia, mas consequentemente, às Ciências. Pena que muitos cientistas se esquecem deste detalhe... .

sábado, 3 de outubro de 2009

A Não Indiferença

Valorar é uma experiência fundamentalmente humana que se encontra no centro de todas as escolhas. Elaborar um plano de ação já é indício de escolhas de valores, mesmo que não percebamos. Há o mundo das coisas e o mundo dos valores, ou seja, não é possível a existência humana sem que esta não busque seus significados. Deste modo, nos mostramos capazes de realizar ações transformadoras, deixamos de ser passivos para sermos atuantes.
Somos afetados pelas coisas e pelas pessoas uma vez que somos influenciados pelo que nos rodeia, mas, também não passamos incólumes pelo mundo, pois atribuir valor a algo ou a alguém é uma maneira de não passar indiferente. Não ser indiferente é a atitude que orienta a ação humana na construção da história do homem como indivíduo e como personagem de seu tempo. Daí a importância de se respeitar a pluralidade e as diferenças como garantia para que nenhum povo se deixe sucumbir à tentação de dominar o outro por considerar o diferente como sinal de inferioridade. O verdadeiro homem pauta suas escolhas no seu dia a dia na medida em que, reconhecendo os riscos do egoísmo consciente, presente tanto no indivíduo como na atmosfera coletiva, age cautelosamente como legislador de si e do mundo.

A Não Indiferença