terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Dor e a Doença

Há doenças que são do corpo mas que também doem na alma, do mesmo modo há doenças que são da alma, mas que também parecem ter o poder de se alojarem no corpo. É como se houvesse uma integração entre estes dois aspectos do nosso ser, pois somos corpo e somos alma ou qualquer outra denominação que se dê à esta manifestação não material de nós mesmos.
O corpo é visto como instrumento através do qual nos expressamos, porém ele jamais poderá ser visto como mais uma coisa entre as coisas, visto que a relação por nós estabelecida com ele é repleta de valores. Apesar dos significados eróticos e estéticos virem através dele, ele não é mera anatomia.
A dor e a doença são manifestações da nossa corporeidade, elas podem ser vistas como metáforas de nós mesmos. Dizem que o peso da tuberculose no século XIX, é proporcional ao peso de outras doenças no século XX e XXI, com o câncer e a AIDS. Espera-se que o preconceito em torno destes males desapareça na mesma proporção que o medo e a angústia sejam suplantados pela esperança de cura, como já aconteceu com a tuberculose a hanseníase.
Precisamos afugentar as metáforas e substituí-las pela desdramatização, se somos seres conscientes de nós mesmos e do mundo, é preciso saber que sentido damos às doenças e o uso que fazemos das mesmas. Não podemos esquecer que não há como gerar significado para quem se encontra dentro do turbilhão do medo, da angústia e da dor. Então, o que resta é buscar o abrandamento do inevitável, e isto, cada homem encontra do seu modo, considerando suas convicções e crenças ou até a ausência das mesmas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Que é que eu penso do amor?

Em suma não penso nada, diria R. Barthes,... estando do lado de dentro, eu o vejo em existência, não em essência. Dentro do discurso amoroso, embora haja permissão para a reflexão, esta foge do pensamento lógico, deixando assim de ser reflexividade, pois é impossivel falar em linguagem amorosa e ao mesmo tempo pretender pensá-la racionalmente.
As lendas gregas, já traziam na figura de Eros, filho de Afrodite e Ares, o deus do Amor como força de natureza espiritual que preside a partir de seu nascimento, a coesão e a ordem do universo. Curiosamente, este mesmo Eros encarregado de flechar os corações para torná-los apaixonados, se apaixona por Psique (Alma). Afrodite, a sogra invejosa da beleza de Psique, afasta-a do filho e a submete às mais difíceis provas e sofrimentos, dando-lhe como companheiras a Inquietude e a Tristeza, até que Zeus, atendendo aos apelos de Eros, liberta-a para que o casal possa enfim se unir novamente.
O que os mitos gregos podem nos revelar sobre o amor é que ele permite ao homem sair de si para assim tornar possível o encontro com o outro, somente através desta intersubjetividade se realiza o encontro. É isso que caracteriza fundamentalmente o homem, pois como força desejante, encontra a energia que o impulsiona a agir e procurar o prazer e a alegria, alcançando deste modo o objeto de seus desejos.
O amor também tem seus paradoxos, pois a meta alcançada não significa algo estático, ao contrário, é o começo do caminho de construção e reconstrução. Mesmo sendo vínculo, há um alto risco das pessoas serem aprisionadas em seu envolvimento, podendo deste modo chegar à dissolução do tão sonhado encontro. Citando um provérbio chinês:" O lugar mais sombrio, é sempre debaixo da lâmpada."

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sensibilidade e Entendimento

Ao afirmar na Crítica da Razão Pura que: " Há dois troncos do conhecimento humano que partem talvez de uma raiz comum mas desconhecida de nós, que são a sensibilidade e o entendimento; pela primeira, os objetos nos são dados, pela segunda, são pensados ", Kant quer dizer que a sensibilidade, mesmo capaz de receber impressões, não basta para que haja conhecimento pois é preciso que o espírito pense o que é dado, e isso, é feito através dos conceitos.
É importante também entendermos a impossibilidade de captarmos os corpos a não ser inseridos em relação de distância, proximidade, grandeza, em suma, numa rede de relações espaciais. Para uma melhor compreensão devemos pensar a respeito da relação espaço e tempo. O espaço nós dá a possibilidade de abstrairmos todas as coisas que ele contem, porém, não o próprio espaço. O tempo também não é uma realidade em si, independente de nós. Nele estão enquadradas todas as coisas e estas, podem desaparecer, menos o próprio tempo.
Aplicando estes conceitos na experiência de viver, é preciso entendermos a dinâmica que há por trás de cada juízo elaborado sobre o mesmo tema e por vezes tão distintos em seu conteúdo. Não se aprende a experiência para depois submetê-la à síntese, pois o próprio ato de apreender já pressupõe que a experiência tenha ocorrido.
Sejamos pois tolerantes com os que pensam diferente de nós visto que a verdadeira experiência de cada um frente ao mundo, refletindo aqui sobre a questão do espaço, do tempo e das coisas neles inseridas, repercutem diretamente na síntese que cada indivíduo faz a respeito dos acontecimentos. Porém, ser tolerante não nos tira o direito de nos indignarmos diante dos juízos cegos e por vezes incoerentemente irracionais e com os quais nos deparamos com frequência.