segunda-feira, 31 de maio de 2010

O poeta cego e a atividade do pensamento

Cego é aquele que estando incapacitado de representar é livre o bastante para perceber mais atentamente o verdadeiro sentido daquilo que lhe rodeia.
Vivemos e agimos de acordo com um sentido que nos é colocado como finalidade. Desta forma, quem vive possui uma filosofia, uma concepção de mundo. Embora nem sempre manifesta, esta se aninha nas estruturas do inconsciente. De lá, ela comanda nossas vidas e norteia os nossos passos. A vida concreta de todo homem é pautada numa rede de significados, por vezes inconscientes, mas, presentes na mente a ponto de gerar as significações que atribuimos à nossa vida.
Uma coisa é querer impor um valor a um acontecimento, outra diferente, é dar voz às vozes presentes nos acontecimentos. Aí está a possibilidade do encontro de um ponto totalmente neutro onde seja possível se deixar conduzir pelo desinteresse e deste modo permitir que o sentido venha à tona. É assim que age o poeta cego, distante das pulsões oriundas dos sentidos, entrega-se por inteiro ao reino da significação e sem se dar conta, mergulhando na imparcialidade cria condições favoráveis para a significação emergir.