segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tempo, Destino e Liberdade Finita

Fazemos a experiência do tempo quando contamos com ele, quando consultamos o relógio, quando nos arrependemos com o tempo perdido, quando aguardamos uma data ou evento e também em muitas outras circunstâncias tristes e alegres.
A espera é um porvir até que se torne verdadeiramente presente. Faz parte da gênese da existência este contra-movimento e dentro deste contexto, a finitude e o tempo se expressam como possibilidade, mas que conserva um laço com algo que se furta e se desvia. Parece que o tempo rejeita a si próprio na medida em que se apresenta em sua finitude. Neste caso, a primazia do porvir, como tempo futuro, pode servir de consolo para o tempo presente; não esquecendo aqui de considerar o tempo como passagem.
Se é verdade que há um tempo para tudo, o que isso quer dizer? É preciso antes de tudo lembrarmos que não há tempo natural, visto que esta questão também é fruto da convenção humana na tentativa de tornar mais fácil a convivência entre os homens.
O tempo é em sua essência finito e aberto. Finito porque é mensurável, daí a nostalgia que sentimos daquilo que já passou e aberto por nos gerar imagens de um horizonte que se abre através de nossos sonhos e principalmente porque é um constante porvir.
" Derivar a historicidade da temporalidade é mostrar que a temporalidade abriga algo como um destino, que é o nome da liberdade finita." ( Martin Heidegger)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Você não é, está sendo

Nós, seres humanos, fazemos parte de uma espécie que até o momento, revela-se muito bem sucedida em termos de sobrevivência biológica. Somos possivelmente os únicos seres vivos que povoam todas as regiões da terra, desde as mais quentes até as mais frias.
Curiosamente, é este mesmo homem que chega ao mundo como a mais impotente de todas as criaturas. É um ser inacabado e portanto vulnerável. Porém, este mesmo ser já chega ao mundo com um sistema nervoso digno de admiração e que mais tarde irá desenvolver-se graças a combinação do inacabado com a infinita maleabilidade humana que o faz amoldável. Na prática, isto implica a existência de infinitas possibilidades acessíveis ao humano.
A partir da compreensão que o homem é inacabado, podemos então refletir sobre as várias maneiras de agir. Para Epicuro "há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem."
Sendo um ser inacabado, somos obrigados a fazer escolhas e estas implicam uma concepção de certo e de errado. Mas como já dizia o sábio Sócrates: "o homem só pratica o mal quando ignora o bem." O importante é entender que sendo um animal social, que só se realiza dentro de um contexto de co-liberdade, a questão com a qual devemos nos preocupar não é pois uma simples distinção teórica entre bem e mal. É sim a construção de nossas histórias individuais a partir de um contexto onde o outro também tem que ser pensado pois mesmo condenado a ser livre, o homem é o responsável por tudo que faz, embora não tenha criado a si mesmo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O que podemos tirar das lições de Prometeu, Orfeu e Narciso

O homem age impulsionado por necessidades de sobrevivência, para satisfazer apetites e desejos, pela necessidade de crescer ou até pelo anseio de sobrepujar-se aos outros. Para Hegel, o homem é um desejo. Para Marx, é uma necessidade, ou melhor, é um sujeito portador de necessidades.
Onde estaria então a origem da infelicidade do homem moderno? O acúmulo de erros através dos tempos nos mostra as contradições de um prazer que em si mesmo é pecaminoso; isto não no sentido religioso, mas sobretudo no que diz respeito ao remorso que este é capaz de gerar na personalidade humana. É óbvio que neste tema podemos sim nos aproximar de vários cultos religiosos que usam a autopunição e o sofrimento como forma de atenuar o direito humano à felicidade.
Parece que o homem moderno foi forjado à imagem de Prometeu, que conquistou o fogo, instruiu os homens, mas foi finalmente preso, atormentado e acorrentado. O ideal do homem, para Marcuse por exemplo, seria a figura do lírico Orfeu cantando a beleza da natureza e também do belo Narciso que, amando a si mesmo, também amaria toda a humanidade.